Por João Scortecci
Presidente da Abigraf São Paulo
A tipografia nasceu “em conflito”. Gutenberg teve de enfrentar a ira dos copistas quando da invenção de sua “prensa” de tipos móveis. Coisas do demônio! Desse “conflito tecnológico” – e sem volta – nasceram os jornais, as revistas, possibilitando, consequentemente, a popularização dos livros.
O primeiro jornal semanal foi o “Nieuwe Tijdinghen”, fundado na Antuérpia, Bélgica, em 1605. No Brasil – 200 anos depois – o primeiro jornal foi a “Gazeta do Rio de Janeiro”, que começou a circular em 10 de setembro de 1808, com o fim do embargo pela Coroa portuguesa, que, até então, proibia a existência, na Colônia, de imprensa, indústrias, bibliotecas e universidades.
Há, no entanto, quem afirme que o primeiro jornal do País foi o “Correio Braziliense”, impresso em Londres, Inglaterra, por Hipólito José da Costa, e distribuído no Brasil a partir de 1º. de junho de 1808. A primeira revista brasileira, “As Variedades ou Ensaios de Literatura”, foi lançada em 1812, em Salvador/BA, pelo editor português, Manoel Antonio da Silva Serva, e durou não mais que dois números. A arte da tipografia tornou-se um ofício nobre, com privilégios para poucos.
Da invenção de Gutenberg até à Revolução Industrial, os métodos de trabalho pouco evoluíram. Até 1814, quando foi inventada a máquina de impressão cilíndrica, o trabalho tipográfico tinha sido manual, quer na composição, quer na impressão. À invenção da máquina cilíndrica seguiu-se, passadas três décadas, a da impressora rotativa, que veio dar um significativo incremento à impressão de livros, jornais, revistas e outros impressos. Mas, se o problema da impressão estava, em parte, resolvido, a composição continuava a ser morosa e trabalhosa.
Era urgente a necessidade de se inventar uma máquina que substituísse o grande número de trabalhadores até então mobilizados para a composição. Coube ao imigrante alemão, Ottmar Mergenthaler (1854-1899), de Baltimore, EUA, proprietário do “New York Tribune”, a invenção – considerada a oitava maravilha do mundo – da máquina de composição de tipos de chumbo.
Em 1884, Mergenthaler apresentou ao mundo gráfico a sua incrível “Linotype”, equipada com chumbo em ponto líquido, capaz de compor uma linha inteira de texto com um simples toque no seu teclado. Com essa mecanização, a produtividade do processo de composição octuplicou, equivalente ao trabalho de oito compositores manuais. Ao ver sua engenhoca funcionando, Mergenthaler exclamou: “A line of type!”.